Mapeamento Biorregional

Disciplina Atividade Curricular em Campo (ACC) Mapeamento Biorregional Participativo em comunidades costeiras tradicionais como ferramenta para educação ambiental, oferecida para estudantes de diversos cursos de graduação da UFBA.

OBJETIVOS:
Empoderar as comunidades com Instrumentos de diagnóstico e planejamento ambiental, os mapas biorregionais, com vistas a promover a sustentabilidade das atividades produtivas nas comunidades, incentivando a conservação ambiental, a redução dos conflitos de uso entre as atividades produtivas existentes, o aumento da participação social em espaços de regulação e a fiscalização institucional.

CONTEXTO:
Com o passar dos anos, o ambiente nas comunidades costeiras vem atravessando processos de deteriorização, gerando preocupação no sentido de resolver os problemas ambientais. Dentre outros temas ligados à conservação do ambiente, a educação ambiental é peça importante no processo de reconhecimento de valores e elucidação dos conceitos que levam a desenvolver as habilidades e as atitudes necessárias para entender e apreciar as inter-relações entre os seres humanos, suas culturas e o meio em que vivem. A Educação Ambiental transformadora deve ser entendida enquanto processo social, com base na sustentabilidade da vida e na atuação consciente indo em direção a uma ética ecológica (LOUREIRO et al, 2002). O estudo e aplicação da Educação Ambiental são entendidos por muitos atores locais como uma ferramenta necessária e positiva, principalmente, por buscar de maneira dialógica e participativa garantir a preservação do meio em que vivem e tiram o seu sustento. 
Nas décadas de 1960 e 1970 os planos de gestão de recursos naturais se baseavam em formações geralmente adquiridas e analisadas por pessoas externas à comunidade, priorizando o estudo do ambiente físico e não consideravam a problemática social e ambiental (CHAMBERS, 1991), negligenciando, principalmente, o conhecimento técnico local (RICHARDS, 1985). Esse quadro sofre alteração a partir da década de 1980 com o desenvolvimento prático da gestão de recursos naturais valorizando o conhecimento técnico e ecológico local (BERKES, 1999). A pesquisa participativa, desde 1990, tornou-se uma ferramenta muito útil para o desenvolvimento da gestão de recursos naturais permitindo a sustentabilidade no uso destes, notadamente, para o desenvolvimento de comunidades e grupos sociais em situação de vulnerabilidade (CHAMBERS, 1994; TYLER, 2009).
Neste sentido, para promover a sustentabilidade ambiental dos empreendimentos nas regiões do projeto, será necessário a sensibilização mediante o desenvolver de oficinas de educação ambiental e criar espaços de discussão e disseminação sobre as principais questões ambientais; identificar a necessidade da realização de ajustes/encaixe das diversas atividades produtivas existentes, observando a importância da gestão de conflitos de uso; além de incentivar e proporcionar a participação de produtores e membros das comunidades em espaços de discussão sobre regulação e fiscalização ambiental.

METODOLOGIA:
Paulo Freire (1968) sugere que as populações locais são capazes de conduzir suas próprias pesquisas e assim devem fazê-lo. Essa prática possibilita uma conscientização das pessoas sobre a problemática local, aumentando a confiança na capacidade de modificação do meio a partir de seus conhecimentos e suas ações.
O transcurso do método de participação da comunidade segundo Brose (2001) pode ser subdividido em 3 partes, sendo que a primeira corresponde à ampliação do conhecimento sobre seu processo pelas famílias e construção de uma relação de confiança mútua.  A fase consecutiva se refere à definição de objetivos e prioridades pela comunidade. Nesta fase, deve-se criar um ambiente de consenso dentro do grupo, bem como estabelecer uma visão conjunta.
O mapeamento bioregional é uma técnica que permite representar os conhecimentos coletivos biológicos, físicos e culturais, de comunidades tradicionais, ou de qualquer outra instância, em cartas simples de várias camadas (multi-layered). Quando as fontes de informação são plotadas nestes mapas, há um salto quali-quantitativo que permite que as comunidades possam utilizar tais mapas como ferramentas eficientes para a tomada de decisões (Aberly e George, 2010). O reconhecimento do saber tradicional do povo que historicamente vive no território é o objetivo essencial do mapeamento bioregional. Esse tipo de mapeamento delineia o conhecimento existente entre os membros da comunidade, tanto quanto viabiliza entre eles a coleta de novas informações, e consolida toda a informação de forma concisa mais completa num instrumento da própria comunidade (Castro;  McNaughton 2003).
A partir deste princípios, serão realizadas reuniões semanais, totalizando 28 horas, para:
Introdução à intervenções em comunidades, principais problemas ambientais em comunidades costeiras, planejamento das atividades, capacitação em mapeamento bioregional, avaliação e replanejamento das oficinas, discussão para aprofundamento nos temas levantados.
Estas reuniões serão realizadas no laboratório ECOMAR, contando com o apoio da equipe do Programa MarSol e Projeto Semeie Ostras. Numa abordagem de aprendizagem por resolução de problemas.
Em campo serão realizadas 5 oficinas de mapeamento bioregional de 4 horas em cada comunidade (2 comunidades por semestre), alternadas com intervalos de trabalhos de campo e pesquisa acadêmica, totalizando 20 horas de oficinas por comunidade distribuídas em:
  1. capacitação inicial e deliberação sobre elaboração dos mapas;
  2. sistematização das informações pesquisadas pelas comunidades e estudantes;
  3. sistematização das informações pesquisadas pelas comunidades e estudantes;
  4. refinamento dos mapas
  5. apresentação coletiva dos mapas e avaliação da intervenção na comunidade.


Estas oficinas serão executadas com apoio da equipe do Projeto Semeie Ostras, iniciando pela sensibilização e mobilização prévia. Contando, inclusive, com apoio financeiro para os diversos recursos materiais. Sempre numa abordagem horizontal, valorizando a troca de saberes, e a inclusão social.
Nas oficinas os estudantes irão elaborar junto com os diversos setores das comunidades convidadas, mapeamento das áreas de relevância ambiental, conflitos e prioridades, e propostas para intervenções ambientais. Para tais elaborações serão necessárias pesquisas de campo por parte dos participantes das comunidades; e, também, pesquisas bibliográficas e entrevistas a representantes de instituições envolvidas por parte dos estudantes.  Nos mapas biorregionais deverão constar, alem do posicionamento geográfico, vários elementos produzidos pelos participantes das comunidades, tais como: ilustrações (desenho ou foto) e dimensionamento dos elementos apontados, suas definições, descrições, referências históricas e sociais, em textos autorais. O conjunto de mapas assim gerado, deverá ser reproduzido (custos cobertos pelo Projeto Semeie Ostras), para divulgação e discussões mais amplas pela comunidade, para posterior aprovação coletiva.

Adotando Fagundes e Barbosa (2007) como referência prática destacamos que 
"a metodologia das oficinas tem como base os princípios, teorias e técnicas ou dinâmicas de grupo, que surgiram em decorrência da teoria de campo de Kurt Lewin (1948) e de Pichon-Riviere (1988). Estas são ações educativas em que o trabalho dos educadores não se restringe ao plano intelectual e cognitivo, que prevê informações e conhecimentos; envolvem principalmente mudanças de comportamento, atitudes e valores. As oficinas servem para diagnosticar a prática – o que as pessoas pensam, o que sentem, o que vivem, o que desejam; servem para desenvolver um caminho de teorização sobre esta prática com um processo sistemático, ordenado e progressivo, e para retornar à prática, transformá-la, redimensioná-la. Também visam à inclusão de novos elementos que permitem explicar e entender os processos vividos pelas pessoas que deles participa. Dessa forma, as oficinas concretizam a metodologia participativa em que os educandos não são receptores passivos, têm uma ação efetiva em seu próprio processo de aprendizagem por perceberem seus conhecimentos e experiências valorizados. Igualmente, por serem estimulados ao envolvimento na discussão, identificação e busca de soluções para os problemas levantados pelo próprio grupo e com os quais terão de lidar ao se tornarem educadores, disseminadores. Neste contexto, o grupo é a instância que estabelece a ligação entre o individual e o coletivo. Num contexto grupal, as técnicas participativas geram um processo de aprendizagem libertadora que permite desenvolver um processo coletivo de discussão e reflexão, ampliar os conhecimentos individuais, coletivos enriquecendo seu potencial e conhecimento, e possibilitar a criação, formação, transformação de saberes em que os participantes são atores de sua elaboração e execução (FREIRE, 2005). Outra estratégia a ser utilizada no desenvolvimento de trabalhos de capacitação com as comunidades são as dinâmicas de grupo, inseridas no contexto das oficinas, observarndo uma série de condições entre as quais: o preparo do ambiente físico; o acolhimento afetivo; a postura física receptiva; o senso de observação; a escuta sensível e a observância de normas de convivência.  Além disso, uma prática pouco comum, porém muito construtiva e que deve ser estimulada por este projeto, é a identificação de facilitadores-educadores nativos das próprias comunidades. Isso permite uma adequação da linguagem, valorização dos saberes em nível local e maior troca de informações, conteúdos e experiências".